Artigo Especial: as fake news nossas de cada dia

Por: João Carlos Miranda

Elas tomaram corpo em nosso dia-a-dia e estão entre nós: as FAKE NEWS parecem verdades, tem características de verdades e à medida em que são compartilhadas se tornam verdades para grupos, seja por interesses próprios, simpatia ao que é explorado no tema abordado ou mesmo por pura ignorância. A assunto é sério e não, não se resume à guerra política. A desinformação causa prejuízo para a econômia, para a sociedade e mesmo individualmente. Todos perdemos com ela. Então porque tanta gente a cria?

Entre os diversos desafios que a revolução digital nos traz enquanto sociedade, creio que um dos maiores é o controle da desinformação causada pela disseminação de conteúdos maliciosos, que traduzindo do ingles para português, são as notícias falsas (fake news). Antes limitadas pelo físico e financeiro e dominada pelos meios de comunicação “tradicionais” de massa, como jornais, revistas, rádios e tvs, e mesmo interpessoais, como telefone e cartas, as notícias falsas eram menos divulgadas e tinham “menos” autores e cúmplices, e mais chances de serem desmentidas.

Mas com o advento da internet a democratização da informação, enquanto objeto de consumo, extrapolou as linhas da ética e moral jornalística estudada nas universidades de comunição social. Sim, ter acesso ao conhecimento não o torna necessariamente a moral de ninguém, é verdade, mas é claro que este conteúdo falta, e muito, nas redes sociais.É óbvio que esta proliferação de desinformação se dá por vários meios e objetivos antagônicos ao que é ser “ético” na divulgação de uma notícia.

Na moda já há vários anos há desinformação que é estrategicamente usada como arma política. Neste campo ética e moral inexistem ou agonizam em pequenos textos. O que vale é o convencimento que leve a apoio e votos nas eleições. É preciso construir uma narrativa própria, ainda que baseada em opiniões pouco embasadas ou mesmo manipuladas, desvirtuando a verdade e impedindo o acesso a dados precisos por parte dos eleitores (as), para que possam tomar decisões conscientes. Estes “feikeiros” não são envolvidos com causas políticas por conta de convicção. O fazem pelo lucro, pelo dinheiro. São os criadores de fakes profissionais, com extremo conhecimento especializado, seja na comunicação como no marketing, ou em ambos. alguns entre eles apelidados de marketeiros.

Junto com estes grupos tem ainda aqueles que lucram com os “likes” e, principalmente, com engajamento nos posts: chamados comumente de influenciadores digitais, ou influencers, eles tem um grande número de seguidores em plataformas de mídia social e, por meio de seu conteúdo e interação influenciam sobre as decisões e comportamentos de seu público. São os criadores de conteúdo que ganham dinheiro em redes sociais e sites (e uns trocados “por fora”, que ninguém é santo), especialistas em seus nichos e que usam de sua influência para promover produtos, serviços ou ideias.

E é nesta selva cibernética de interesses que estamos hoje. O resultado é que não temos certeza de quase nada e o quase também pode ser questionado. Meio que estamos todos como cegos em tiroteio. E é simples ilustrar a tragédia que pode significar isso:durante o período da pandemia do Covid 19 aconteceram diferentes momentos de desinformação. As ‘fake news’ estavam relacionadas com a origem do vírus, a partir de teorias da conspiração sobre uma suposta ‘criação proposital’.

Após se divulgou uma onda das curas milagrosas, quando viralizaram diversas informações falsas sobre receitas caseiras e remédios que supostamente curariam o coronavírus (Alguns desses medicamentos causaram efeitos colaterais, como comprometimento no fígado e problemas cardíacos). E se não foi pouco, a compra e eficácia das vacinas foram objeto de controvércia e mais desinformação. Resultado: mais de 700 mil mortos.

Ainda hoje um dos temas que é muito repostado pelos “normais” nas redes sociais é que “não há aquecimento global nem mudança climática”. No entanto, o aquecimento global e as mudanças climáticas já foram comprovados cientificamente há décadas. O Consórcio Alemão do Clima (DKK, em alemão) explica que todas as partes do sistema climático – ou seja, oceanos, gelo, terra, atmosfera e biosfera – aqueceram-se significativamente nas últimas décadas. E, além disso, o ar na superfície da Terra já é 1 ºC mais quente do que a média global na era pré-industrial. Mas…Quem sabe mais é o tiozão ou tiazona que sequer alguma vez leram um livro científico sobre o assunto. Resultado: continua piorando. Até quando?… Espero não estar vivo para saber.

Mas… Ah! Esse mas… Há um elemento que se esconde neste texto, que é o fiel da balança e fundamental para fomentar uma boa, verdadeira e ética informação: não menos merecedores de atenção estamos nós, os comuns. Aqueles vítimas e vilões das fake news. Nós, que balançamos o berço explêndido desta patria mal amada Brasil, com seus fake patriotas americanizados e defensores da soberania de direito (proteger a capacidade de um Estado de exercer seu poder dentro de suas fronteiras e de tomar decisões de forma independente, sem interferência externa, com base em um sistema jurídico estabelecido). Sim, os que recebem toda esta desinformação e os que as retransmitem, ou não, segundo sua capacidade de interpretação dos fatos e também da consciência moral e ética. Não somos poucos que nos escondemos nos reposts de mentiras com algum objetivo, seja financeiro ou de afirmação de um pensamento ou linha ideológica.

Se cada um de nós nos preocuparmos em impedir a falsa informação de se espalhar já teremos um grande avanço enquanto sociedade, e aqui em um primeiro momento permito-me achar correto omitir-se de divulgar o que desagrade. Não me faço santo. Me calço na seguinte frase: “Em vez de elogiar falsamente, é preferível manter o silêncio ou expressar uma opinião neutra”. Então presta atenção aqui:não acredite mais que raios não caem duas vezes no mesmo lugar. Cai sim, viu? Além de para-raios, topos de prédios e monumentos pontiagudos, copas de árvores também costumam atrair descargas elétricas. E quando ouvir Tim Maia cantar “os sete Mares” é fake também (há a licença poética, mas geográfica não): o detalhe é que mar é uma coisa, e oceano, outra. Enquanto o primeiro é formado por uma porção de água salgada cercada em parte ou totalmente por terra, o segundo determina áreas muito mais amplas e abertas: Há então, oficialmente, mais de 100 mares e apenas cinco oceanos no planeta, certo?!Tem sete mares não!

E é por essas e outras que fica aqui meu apelo à você, cidadão(ã): por mais que você não “goste” de algo ou alguém, tenha responsabilidade moral e ensine seus filhos a tê-la. Repostar informações falsas não isentam a consciência do certo e do errado. Não aceite viver sob o manto de mentiras porque, por exemplo, te convenceram que a desigualdade é um fator natural no capitalismo e ser “pobre” é consequência da sua falta de esforço (meritocracia), ou ainda que as escolas vão mudar a sexualidade das crianças por meio de uma tal de’ideologia de gênero’ inexistente ou ainda que o governo vai dar “mamadeira de piroca” nas creches. De novo não, né?! É importante ter consciência de que notícias falsas podem influenciar eleições, causar danos à reputação de pessoas e instituições, e até mesmo incitar violência e morte. Somos todos por um Brasil melhor. É aqui que vivemos, é aqui que nossos filhos viverão. Grande abraço a todos.

*João Carlos Miranda é jornalista com mais de 35 anos de experiência em assessoria política e atualmente é articulista do Portal Zero Hora Amazonas em SP

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